Clima

Professor de meteorologia da UFSM explica por que é mais difícil prever temporais nesta época do ano

Deni Zolin

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Os temporais e as tempestades severas, com ocorrência de pedras grandes de granizo, ventos de até 134 km/h e e enxurrada têm causando grandes estragos no Estado. Os institutos de meteorologia têm previsto a probabilidade de ocorrência desses temporais, mas nem sempre acertam. Um exemplo foi nesta quarta-feira, quando alguns institutos previam chuva moderada. Mas, à tarde, as tempestades voltaram a atingir a região, inclusive com pedras grandes de granizo em Santiago. Para entender isso, o Diário entrevistou o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Meteorologia da UFSM, Ernani de Lima Nascimento, que explicou por que as tempestades nesta época do ano são mais difíceis de serem previstas. Confira abaixo:

Diário - Nesta época do ano e em função da influência do El Niño, fica mais difícil prever chuvas e tempestades e em que local cairão?
Ernani Nascimento -
A previsão de tempestades e de chuvas associadas a estas tempestades é difícil não só nesta época do ano e em anos de El Niño, mas em qualquer situação. O El Niño só faz com que as condições favoráveis a chuvas e tempestades fiquem mais frequentes aqui sobre o Estado, mas não transforma a previsão das tempestades e das chuvas em algo mais difícil.

Primeiramente, deve-se dizer que, de todos os parâmetros atmosféricos, a chuva é o mais difícil de se prever porque prever a localização desta chuva e sua quantidade depende de uma boa previsão de todos os outros parâmetros atmosféricos como temperatura, umidade, pressão atmosférica, vento e umidade do solo, por exemplo. É como dosar os ingredientes de um bolo: basta errar a dosagem de 1 único ingrediente para que o bolo todo seja arruinado, mesmo que você acerte a dosagem do resto.
No caso específico de chuvas associadas a tempestades, o desafio é maior porque a ocorrência de tempestades é muito sensível a fatores locais, de pequena escala. Quanto menor a escala do processo atmosférico a ser previsto, menor é a sua previsibilidade. Por isto, é mais fácil prever chuvas associadas a um ciclone extratropical (que tem centenas de quilômetros de diâmetro e dura vários dias) do que prever as chuvas associadas a tempestades (que duram poucas horas e têm dimensão menor que 100 km).
Além disto, um erro de apenas 10 km na previsão da posição do centro de um ciclone extratropical não vai afetar muito a previsão de chuva (por exemplo) para Santa Maria, mas o mesmo erro de 10 km na posição de uma tempestade pode fazer toda a diferença entre chover e não chover em Santa Maria. Da mesma forma, um erro de apenas 1 hora na formação de um ciclone extratropical provavelmente não vai arruinar a previsão de chuva, mas um mesmo erro de 1 hora na formação de uma tempestade pode fazer toda a diferença entre chover e não chover em uma localidade. Este é o desafio.
Como no período de primavera e verão temos mais tempestades do que no inverno, a previsão de chuva geralmente é mais difícil na primavera/verão do que a previsão de chuva no inverno. Está é a regra geral.

Diário - Tem a ver com que fatores essa imprevisibilidade? Vento, calor, influência do El Niño, umidade? Ou seja, o que faz as previsões serem sujeitas a mais erros?

Nascimento - Isto vai depender da sensibilidade do fenômeno a ser previsto a determinadas condições meteorológicas locais. Por exemplo, a previsão de um ciclone extratropical não vai ser muito sensível ao conteúdo de umidade do solo na Depressão Central do RS, mas a previsão de uma linha de tempestades pode ser altamente sensível a esta informação local. Quanto mais localizados forem os fatores atmosféricos relevantes para a previsão de um fenômeno, menor é o grau de acerto da previsão de"

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